sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O Professor e o(s) filme(s) escolhido(s)

Você já conseguiu passar pelo primeiro passo, escolheu seu filme e, já tem uma idéia bem clara quanto aos motivos pelos quais elegeu esse material para utilizar em sua próxima aula ou seqüência de conteúdos. O processo de seleção, como dissemos, foi mais árduo do que se imaginou a princípio; há critérios que devem ser levados em conta, existe todo um planejamento ao qual você deve estar relacionando a obra em questão, as turmas as quais esse material se destina também foram avaliadas anteriormente (o que lhe permite saber se o nível do filme é adequado, se a compreensão dos elementos apresentados será possível, se o trabalho poderá ser desenvolvido dentro de uma atmosfera de normalidade e, principalmente, se nesse contexto, frutos a se colher em virtude dessa semeadura irão surgir) e, não podemos nos esquecer de nós mesmos, nossa preparação em relação ao tema (se as leituras estão em dia, se os pormenores do assunto são conhecidos, o que tem saído de novo sobre tal temática, as resenhas publicadas nos principais jornais e revistas sobre o assunto, se o filme escolhido já foi analisado por especialistas em educação e cinema – o que me lembra de convidar-lhe a nos visitar no Planeta Educação sempre que você estiver montando uma aula como essas, todas as semanas lançamos mais e mais material sobre filmes, aproveitem a oportunidade!). Você já deve estar pensando:

- Mas, e a próxima etapa, passemos a ela, estou ansioso(a) e você fica recapitulando idéias apresentadas anteriormente!

Bom, vamos a ela! Num segundo momento sua preocupação passa a ser assistir ao filme, o que, convenhamos, consiste na parte mais agradável do trabalho. Realmente, procure relaxar, coloque o filme no vídeo ou no DVD, sente-se numa posição confortável, procure desligar-se de qualquer outro compromisso ou responsabilidade que possa desviar sua atenção e, de preferência, assista ao filme acompanhado por alguém em quem confia, de bom senso, que possa trocar idéias com você após o final da “projeção”.

- João, esse filme foi escolhido para fazer parte de um projeto, de um trabalho que estou desenvolvendo na escola e você sugere que assistamos ao material de forma relaxada, acompanhados e que esqueçamos das outras responsabilidades de nossas vidas? Só falta falar para pegar uma pipoquinha e um refresco!

Realmente, havia me esquecido desse detalhe, se puder providenciar uns comes e bebes, faça isso, tudo vai ficar ainda mais interessante.
Por trabalhar com pesquisa na universidade tenho lido muitos textos que recomendam que a primeira “leitura” que fazemos de um determinado produto cultural deve ser feita com o intuito de reconhecimento, de prospecção, como se estivéssemos identificando o terreno onde iremos realizar o nosso “garimpo”. Não deve haver a preocupação de levar pás, enxadas e picaretas para essa primeira missão, para esse primeiro levantamento de dados (por isso, deixe as canetas, lápis e blocos de anotação para depois, logo “clamarei” por eles).

Assistir o filme, visualizar a história, perceber a orientação dada pelos diretores ao produto final, notar detalhes quanto ao figurino, a música, as locações, ao mobiliário, os diálogos ou os efeitos sonoros e visuais é a sua primeira grande tarefa. Nessa atividade você deve contar com o apoio de uma companhia, por isso lhe recomendei que assistisse a película bem acompanhado, ao lado de uma pessoa sensata, que possa emitir opiniões e juízos a respeito do assunto em questão, o filme.

O motivo desse acompanhamento refere-se ao fato de que “duas cabeças pensam melhor do que uma” e, consequentemente, “ quatro olhos sobre uma mesma referência visual permitem uma melhor observação desse produto”, além disso, por mais próxima que possa ser a pessoa que dividiu o tempo com você ao assistir o filme, por mais assemelhada que seja a forma com que a pessoa se relaciona com o mundo com o modo com que você encara as coisas, são pessoas diferentes (você e essa outra pessoa), provenientes de realidades e formações diferentes, que tiveram contatos e experiências de vida diversas, que se relacionaram com outras pessoas e por isso aprenderam caminhos que não são comuns a ambos, que leram livros não conhecidos por você, que escutaram músicas desconhecidas ou pouco apreciadas em sua existência, enfim, que compõe uma possibilidade de intercâmbio na análise do filme que será enriquecedora para suas conjecturas posteriores. Em suma, seu amigo verá coisas que você não percebeu ao longo da exposição do filme (assim como você terá visto detalhes que passaram longe do raio de visão e percepção do mesmo), muitas dessas idéias captadas pelas “antenas” de seu parceiro podem ser muito úteis na elaboração do projeto em relação a esse material.

- Ah, entendi! Tudo parece fazer sentido até aqui e, o melhor de tudo é que, afinal de contas, essa é uma atividade prazerosa!

Amigo professor, tenha certeza de uma coisa, se investimos em projetos que nos trazem prazer durante sua realização é certeza que teremos como resultado desse trabalho uma colheita das melhores ao final da produção, pois, mesmo que os deuses não estejam em seus melhores dias e, as chuvas não abasteçam as margens do Nilo, encontraremos fontes alternativas que permitirão que nossos campos sejam regados constantemente e floresçam para garantir nossa alimentação e a de nosso povo!

Uma outra garantia que podemos ter em relação a um projeto como esse, que envolve uma inequívoca sensação de prazer, é que o envolvimento que podemos obter por parte de nosso público-alvo, ou sejam, nossos alunos, vai ser dos melhores. Creia-me, sua própria empolgação pode estimular a participação de seus pupilos nos projetos que você estiver desenvolvendo com eles, e isso vale não apenas para trabalhos com filmes, mas também para outras práticas que você venha a realizar. Parece um pouco com o milagre da multiplicação dos pães!

Voltemos aos seus primeiros contatos com o filme, passado esse “primeiro beijo”, ou seja, tendo visto o filme inicialmente, você terá que revê-lo só que, dessa vez, munido de materiais básicos como lápis, borracha, caneta e papel (falei anteriormente que voltaria a eles, não falei!); além disso, prepare-se para parar o filme toda vez que achar conveniente, em toda cena que houver um recurso, uma idéia, um conceito que possa ser utilizado em sua aula, por isso, tenha o controle remoto ao seu lado!

Não procure apenas grandes fatos, idéias ou definições, tenha em mente que uma cena pode enriquecer seu trabalho apenas pelo fato de conter uma ambientação ou um figurino que possam servir de modelo para a compreensão de hábitos, costumes ou formas de se relacionar em um determinado período; muitas vezes a trilha sonora de um filme (e como não prestamos atenção nas músicas, desperdiçamos esse recurso valiosíssimo; nos acostumamos a entender a orientação musical de um filme como apenas um acessório de embelezamento do produto final sendo que, na realidade, trata-se de um elemento cultural precioso e fundamental para a compreensão do filme e também para a visualização e entendimento das diversidades contextuais e culturais) pode conter elementos reveladores de um assunto específico.

Nem tudo o que você estiver vendo poderá ser aproveitado, por isso, em sua garimpagem, você está nesse momento, na beira do rio, com uma bateia (ou peneira) na mão, separando o ouro da areia. Como um autêntico mineiro, você deve perceber que algumas pedras irão brilhar, e que muita areia será jogada fora. Isso significa dizer que, no processo de seleção das idéias, o professor deve ter um crivo seletivo apurado, por isso, ele deve fazer a lição de casa indicada anteriormente, deve ter necessariamente estudado o assunto, colocado em dia as informações sobre o tema e lido resenhas e artigos sobre o filme.

Como um filme longa-metragem raramente tem menos que uma hora e trinta minutos e, já que suas aulas contam com um tempo médio de 45 ou 50 minutos no máximo, deduz-se que a seleção de imagens e idéias reduza o material que vai ser apresentado aos alunos a no máximo 15, 20 ou 30 minutos. Não dá para utilizar o filme inteiro, a não ser que você o faça em horários alternativos e não durante as aulas.

Em nosso próximo encontro estarei falando sobre o que devemos fazer para organizar a atividade a ser feita com o material selecionado. Por hoje, paramos por aqui.

João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutorando em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

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