sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Fazendo Anotações sobre o Filme Escolhido

Antes de trabalhar com a turma, ou seja, como uma etapa fundamental que deve ser realizada previamente para que sua aula utilizando um filme dê certo, você deve fazer anotações sobre o material escolhido. Depois daquela sessão de relaxamento, em frente da televisão, com um acompanhante ao seu lado, tomando um refresco e comendo uma pipoca, chegou a hora de arregaçar as mangas e suar a camisa. É hora de escrever sobre o que viu. Parece muito fácil à primeira vista, o que procede se pensarmos que o essencial é reproduzirmos o que nos foi apresentado. No entanto, nosso olho clínico, de especialistas em determinados assuntos tem que ir mais longe do que aquilo que nossos alunos ou outras pessoas que não dominem o assunto conseguem!

O que eu quero dizer com isso? Muito simples, se você é professor(a) de literatura e tem pela frente um filme como “Romeu e Julieta”, é de se supor que seus conhecimentos sobre Shakespeare e sobre essa clássica obra sejam muito mais extensos do que o de um mortal comum, que não teve a oportunidade de ler e reler uma das maiores histórias de amor de todos os tempos. Por esse motivo tão singelo, espera-se que você consiga perceber, no longa-metragem sobre a referida obra da literatura inglesa, virtudes e defeitos que outras pessoas não vislumbrem!

Portanto, coloque sua leitura sobre o grande mestre das letras em dia e faça uma nova visita a clássica história dos Montecchio e dos Capulettos. Tendo feito isso, seu encaminhamento na hora de escrever ficará mais fácil, pois além de traçar linhas sobre as imagens disponibilizadas no filme, você poderá compará-las com a obra original, de onde foram tiradas as idéias que deram vida a película! Se você conhecer o autor da história, poderá em suas anotações colocar observações a respeito do “escriba” que tenham conexão com os aspectos apresentados na versão para as telinhas de uma de suas obras. O mesmo é válido para outras áreas do conhecimento, por exemplo, se sua intenção for trabalhar o filme “Guerra de Canudos” do cineasta Sérgio Resende, aprofunde-se no tema lendo trabalhos de historiadores (clássicos ou recentes) e, não se esqueça de dar uma passada pelo fantástico trabalho de Euclídes da Cunha, “Os Sertões”.

Nossa! Esse trabalho é muito mais complicado do que eu imaginava!

Não se desespere, lembre-se que a maior parte desses textos, autores e assuntos já foram estudados por você. E continuam fazendo parte de seu cotidiano, nas aulas que prepara e dá para seus alunos! Essas recomendações que apresento tem por objetivo fazer com que você (professor) não deixe de estar por dentro dos assuntos até mesmo para evitar surpresas desagradáveis no dia em que estiver trabalhando o filme em sala de aula (perguntas que não consegue responder, dúvidas de última hora, o constrangimento de se mostrar despreparado,...).



Vamos continuar, retornemos ao assunto principal: as anotações. O ideal num trabalho de pesquisa e levantamento de dados, seja ele feito em relação a um livro, a um artigo científico, a uma reportagem, a uma música ou a um filme é que, após a primeira incursão pelo recurso, você faça uma anotação dos principais pontos trabalhados no recurso tendo o mesmo ao seu lado e, parando para escrever suas considerações na medida do necessário. Ligue seu vídeo e sua TV uma segunda vez, acione o botão “play” e fique com o controle remoto na mão para teclar “stop” toda vez que for conveniente ou necessário. Deixe transcorrer trechos (cenas) completos para que você tenha uma noção clara de todas as informações que foram mostradas naquela seqüência. Se achar mais fácil, anote as idéias mais importantes separando-as em tópicos (se considerar melhor a criação de textos curtos, opte por ela, não há regras fixas ou definitivas em relação a isso!).

Se sua intenção é a de usar apenas seqüências selecionadas do filme, atenha-se a elas e procure o máximo de detalhes para enriquecer suas anotações. Ao utilizar-se do filme inteiro, o trabalho de escrever sobre o material deve abordar todos os minutos do filme, todas as tramas e personagens enfim, cada mínimo referencial apresentado!

Ao terminar essa pesquisa minuciosa, tenha o trabalho de ler cada uma das observações feitas. Veja se você foi claro ao passar para o papel as observações sobre o filme. Coloque-as por escrito como se você estivesse preparando-as para que fossem passadas para seus alunos (tendo sido formuladas num linguajar acessível, sóbrio, adequado e informativo; estando voltadas para o nível de informação que possuem os estudantes com os quais irá trabalhar).

Se você achar conveniente, reescreva-as como se fosse um texto. É um bom exercício para repassar as informações e perceber até que ponto tudo ficou claro para você mesmo. De posse desse material escrito você verá que criar atividades para trabalhar com os alunos ficará sendo muito mais simples e fácil. Os atalhos já estarão ao seu alcance, assim como, eventuais dúvidas serão respondidas sem grandes dificuldades. A elaboração de sua estratégia de trabalho (nosso próximo assunto) será facilitada e provavelmente, mais acertada tendo-se em vista o pleno conhecimento do material (obtida em função do material escrito produzido) e a revisão sobre o tema feita por você. Ao apresentar o filme para os alunos, você será capaz de chamar-lhes a atenção para todos os aspectos que considerar fundamentais nos trechos visualizados.

É como dizem, no caminho que trilhamos sempre existirão pedras, elas podem nos fazer dar voltas maiores ou ainda machucar nossos pés, no entanto, elas tornam nossa chegada um momento de grande satisfação. Para que o filme seja um recurso de ótimos resultados se apresentam algumas pedras no caminho. Não tenha medo de superá-las, o sabor da conquista que o espera no final compensa qualquer bolha ou calo nos pés (ou nas mãos, já que escrever é o caminho que temos que trilhar) que você possa ter!

João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutorando em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

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