sexta-feira, 12 de setembro de 2008

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Abraço

Professor Felipe Souza

Cinema na escola, recurso realmente válido para a educação?

Entrevista do professor João Luís à revista Profissão Mestre

No último mês de junho a Revista Profissão Mestre realizou entrevista com o professor João Luís de Almeida Machado, editor e articulista do Planeta Educação, especialista em Tecnologias de Informação e Comunicação em Educação e no uso do Cinema na Escola, autor do livro “Na Sala de Aula com a Sétima Arte” sobre o trabalho com filmes em sala de aula. Essa reportagem foi publicada pela revista no mês de julho de 2008 e, a seguir reproduzimos o seu conteúdo.

Profissão Mestre - As escolas deveriam aproveitar com mais freqüência o recurso do filme na sala de aula? Seu uso é subestimado?

João Luís - Penso que sim. O filme é um recurso rico, lúdico, interessante. Os alunos que temos fazem parte de uma geração eminentemente visual e tecnológica, como nos dizem alguns estudiosos do assunto. Já nasceram com televisores, aparelhos de som, telefones, computadores, videocassetes, celulares e DVDs por perto. É algo que não podemos desprezar. Já existe o uso de filmes em sala de aula, mas essa utilização não é planejada em longo prazo, não faz parte de projetos pedagógicos e raramente está conectada ao uso de outros recursos pedagógicos. Não são poucos os casos relatados de professores que nem mesmo assistiram aos filmes antes de utilizá-los com os alunos, esses profissionais usam a produção apenas porque ouviram falar que era interessante ou que versava sobre um tema relacionado aos conteúdos que estavam desenvolvendo em aula com seus pupilos. Se não houver um planejamento sério, em que o filme complemente e enriqueça as aulas, sendo posteriormente objeto de trabalhos (individuais ou em grupos), tarefas e mesmo avaliações, é preferível abrir mão e não usar o cinema na escola.

Profissão Mestre - O uso de filmes em sala é considerado recurso antigo? Há professores que o vêem como antiquado?

João Luís – Não tenho por parte dos professores nenhum comentário nesse sentido. Há professores que não gostam de usar filmes em sala de aula, outros que usam, mas não dentro de projetos pedagógicos sérios, existem ainda aqueles que pensam ser o filme apenas entretenimento e lazer e que dessa forma o utilizam em suas escolas. Não me lembro de ninguém que em algum momento tenha se referido a esse recurso como algo antiquado. Há clareza entre a maioria dos educadores do potencial da ferramenta e também de como a tecnologia evoluiu para o que temos hoje, com equipamentos portáteis e de fácil manuseio no contexto escolar atual. Quando conto aos professores que já na época de Vargas iniciaram-se de forma incipiente os primeiros projetos de cinema na escola muitos se surpreendem, ainda mais por saberem que as escolas de então tinham que adquirir equipamentos de cinemas e que isso custava muito caro e demandava bingos, rifas, sessões adicionais de filmes abertos à comunidade,...

Profissão Mestre - Qual sua opinião sobre o recurso aliado à educação?

João Luís - Creio que qualquer elemento cultural - como o cinema, o teatro, a literatura, as artes plásticas, a dança ou a música, por exemplo – constituem bases fundamentais e elementares para o processo de ensino-aprendizagem. Quanto mais utilizamos dentro de projetos esses recursos provenientes da produção artística e cultural, mais reforçamos as possibilidades de aprendizagem. O cinema, especificamente, transmite idéias através de diálogos, interpretação dos atores, figurinos, cenários, locações, músicas, efeitos sonoros, efeitos visuais... É muita riqueza, merece a nossa atenção, concede argumentos, abre espaço para debates, mexe com os sentimentos dos espectadores... Não dá para desprezar esse enorme potencial...



Profissão Mestre - Em que casos pode/deve ser utilizado?

João Luís – Pode e deve ser utilizado sempre que o professor conseguir traçar paralelos e complementar as idéias que estão sendo trabalhadas em suas aulas através de trechos de filmes ou mesmo de produções na íntegra. Filmes, ressalto, devem reforçar idéias, compor como elemento adicional, promover o enriquecimento cultural dos educandos – sempre como material extra que complementa leituras, debates, tarefas, avaliações, trabalhos em grupos,...

Profissão Mestre - É preciso haver uma "alfabetização audiovisual" dos alunos para melhor aproveitamento? Como é possível alfabetizar os alunos nesse sentido?

João Luís – O ideal é que esse trabalho com filmes, como aquele que ocorre com os livros, seja iniciado ainda na educação infantil ou nos primeiros anos do ensino fundamental. Educar o olhar, a capacidade de interpretar, de ler aquilo que está sendo trabalhado através dos filmes... Tudo isso fica mais fácil quanto mais cedo se inicia essa ação, essa prática. É algo que deve, inclusive, ser trabalhado em parceria com a família, de preferência. Diga-se de passagem, que não deve se restringir ao contato com a sétima arte, mas também com exposições, visita a museus, shows musicais, números de dança, literatura,...

Profissão Mestre - E o contexto cultural do receptor? Deve haver preocupação com isso? Como é possível contextualizar o aluno?

João Luís – O respeito à bagagem cultural do educando é de fundamental importância a todo o momento em educação. Não se pode desprezar os conhecimentos anteriores, a formação dada pelos pais, as influências do restante da família, os intercâmbios com os amigos, a religiosidade,... O uso do cinema na escola infere, assim como o de qualquer outro recurso cultural, uma clara consciência e conhecimento da clientela atendida pelo professor antes do uso de filmes em sala de aula. Dessa forma evitamos problemas e ainda otimizamos o uso do recurso. O que quero dizer com isso? Que se iremos trabalhar com grupos que vivem uma realidade distanciada, por exemplo, dos centros urbanos, devemos apresentar as cidades e orientar o olhar sem ofender as origens rurais, caipiras e interioranas dessas pessoas. Não podemos, nesse ínterim, ficar a todo o momento destacando as qualidades e as benesses da vida nas cidades e nem tampouco podemos denegrir o cotidiano das metrópoles. É necessário conhecer bem o filme que vai ser utilizado para que dificuldades de compreensão surjam e que conflitos venham a ser criados.

Profissão Mestre - Que cuidados o professor deve ter antes de optar por um filme ou outro?

João Luís – A primeira preocupação deve ser se o filme é indicado à faixa etária do grupo de alunos com os quais o professor irá trabalhar. Antes disso, o educador já deverá ter assistido ao filme no mínimo duas vezes, para conhecer a história, verificar os pontos que podem ser explorados em sua aula, preparar atividades a serem desenvolvidas pelos estudantes, traçar paralelos entre o filme e os outros recursos utilizados. A utilização dos filmes deve sempre estar relacionada aos conteúdos e práticas educacionais regularmente utilizadas pelo professor. Todo o trabalho deve ser orientado para que o aluno saiba que o filme é mais um meio de aprender, de conhecer, de crescer.



Profissão Mestre - De que maneira(s) o filme pode auxiliar o ensino? Ou seria sua utilização mais adequada para a formação de valores?

João Luís – O filme auxilia tanto na apreensão de conteúdos específicos, relacionados diretamente a demanda da grade curricular e dos planos de ensino. O que fica evidenciado, por exemplo, quando trabalhamos com uma produção como "1492 – A conquista do paraíso", que nos coloca na viagem empreendida por Colombo para a América e todo o processo inicial de colonização dos espanhóis no novo continente, ou ainda quando trabalhamos com filmes que têm como base produções literárias clássicas ou contemporâneas, como "O auto da compadecida". Permite também realizar trabalhos de formação de valores como podemos perceber com filmes do tipo "Escritores da Liberdade" ou "O clube do imperador". Dá margem também a processos reflexivos e até pode motivar as pessoas a alterar comportamentos, o que podemos perceber em filmes como "O show de Truman" e "Obrigado por fumar", apenas para citar dois exemplos. Incitar os alunos a pensar questões sociais profundas é também outra possibilidade e, nesse aspecto, o cinema nacional tem grandes obras, como "Central do Brasil" e "Cidade de Deus", apenas para ficar em dois bem óbvios.

Profissão Mestre - Que resultados positivos a utilização do cinema na educação pode trazer?

João Luís - Dá para enumerar vários benefícios, entre os quais destacaria os seguintes:

Reforça a capacidade de argumentação;
Melhora o vocabulário;
Desenvolve a imaginação;
Dá uma visão mais ampla de mundo ao estudante;
Aproxima os conteúdos escolares do estudante por ser um recurso lúdico;
Facilita a compreensão de temáticas que por vezes podem ser bastante complexas e difíceis de trabalhar em sala de aula;
Abre espaço para debates e comparações com o que foi dito em aula ou estudado a partir de outras fontes;
Mobiliza não apenas a razão e o intelecto, mas também as emoções, o que é, sem dúvida, bastante importante para que esses alunos se envolvam e tenham mais disposição para aprender

Fazendo Anotações sobre o Filme Escolhido

Antes de trabalhar com a turma, ou seja, como uma etapa fundamental que deve ser realizada previamente para que sua aula utilizando um filme dê certo, você deve fazer anotações sobre o material escolhido. Depois daquela sessão de relaxamento, em frente da televisão, com um acompanhante ao seu lado, tomando um refresco e comendo uma pipoca, chegou a hora de arregaçar as mangas e suar a camisa. É hora de escrever sobre o que viu. Parece muito fácil à primeira vista, o que procede se pensarmos que o essencial é reproduzirmos o que nos foi apresentado. No entanto, nosso olho clínico, de especialistas em determinados assuntos tem que ir mais longe do que aquilo que nossos alunos ou outras pessoas que não dominem o assunto conseguem!

O que eu quero dizer com isso? Muito simples, se você é professor(a) de literatura e tem pela frente um filme como “Romeu e Julieta”, é de se supor que seus conhecimentos sobre Shakespeare e sobre essa clássica obra sejam muito mais extensos do que o de um mortal comum, que não teve a oportunidade de ler e reler uma das maiores histórias de amor de todos os tempos. Por esse motivo tão singelo, espera-se que você consiga perceber, no longa-metragem sobre a referida obra da literatura inglesa, virtudes e defeitos que outras pessoas não vislumbrem!

Portanto, coloque sua leitura sobre o grande mestre das letras em dia e faça uma nova visita a clássica história dos Montecchio e dos Capulettos. Tendo feito isso, seu encaminhamento na hora de escrever ficará mais fácil, pois além de traçar linhas sobre as imagens disponibilizadas no filme, você poderá compará-las com a obra original, de onde foram tiradas as idéias que deram vida a película! Se você conhecer o autor da história, poderá em suas anotações colocar observações a respeito do “escriba” que tenham conexão com os aspectos apresentados na versão para as telinhas de uma de suas obras. O mesmo é válido para outras áreas do conhecimento, por exemplo, se sua intenção for trabalhar o filme “Guerra de Canudos” do cineasta Sérgio Resende, aprofunde-se no tema lendo trabalhos de historiadores (clássicos ou recentes) e, não se esqueça de dar uma passada pelo fantástico trabalho de Euclídes da Cunha, “Os Sertões”.

Nossa! Esse trabalho é muito mais complicado do que eu imaginava!

Não se desespere, lembre-se que a maior parte desses textos, autores e assuntos já foram estudados por você. E continuam fazendo parte de seu cotidiano, nas aulas que prepara e dá para seus alunos! Essas recomendações que apresento tem por objetivo fazer com que você (professor) não deixe de estar por dentro dos assuntos até mesmo para evitar surpresas desagradáveis no dia em que estiver trabalhando o filme em sala de aula (perguntas que não consegue responder, dúvidas de última hora, o constrangimento de se mostrar despreparado,...).



Vamos continuar, retornemos ao assunto principal: as anotações. O ideal num trabalho de pesquisa e levantamento de dados, seja ele feito em relação a um livro, a um artigo científico, a uma reportagem, a uma música ou a um filme é que, após a primeira incursão pelo recurso, você faça uma anotação dos principais pontos trabalhados no recurso tendo o mesmo ao seu lado e, parando para escrever suas considerações na medida do necessário. Ligue seu vídeo e sua TV uma segunda vez, acione o botão “play” e fique com o controle remoto na mão para teclar “stop” toda vez que for conveniente ou necessário. Deixe transcorrer trechos (cenas) completos para que você tenha uma noção clara de todas as informações que foram mostradas naquela seqüência. Se achar mais fácil, anote as idéias mais importantes separando-as em tópicos (se considerar melhor a criação de textos curtos, opte por ela, não há regras fixas ou definitivas em relação a isso!).

Se sua intenção é a de usar apenas seqüências selecionadas do filme, atenha-se a elas e procure o máximo de detalhes para enriquecer suas anotações. Ao utilizar-se do filme inteiro, o trabalho de escrever sobre o material deve abordar todos os minutos do filme, todas as tramas e personagens enfim, cada mínimo referencial apresentado!

Ao terminar essa pesquisa minuciosa, tenha o trabalho de ler cada uma das observações feitas. Veja se você foi claro ao passar para o papel as observações sobre o filme. Coloque-as por escrito como se você estivesse preparando-as para que fossem passadas para seus alunos (tendo sido formuladas num linguajar acessível, sóbrio, adequado e informativo; estando voltadas para o nível de informação que possuem os estudantes com os quais irá trabalhar).

Se você achar conveniente, reescreva-as como se fosse um texto. É um bom exercício para repassar as informações e perceber até que ponto tudo ficou claro para você mesmo. De posse desse material escrito você verá que criar atividades para trabalhar com os alunos ficará sendo muito mais simples e fácil. Os atalhos já estarão ao seu alcance, assim como, eventuais dúvidas serão respondidas sem grandes dificuldades. A elaboração de sua estratégia de trabalho (nosso próximo assunto) será facilitada e provavelmente, mais acertada tendo-se em vista o pleno conhecimento do material (obtida em função do material escrito produzido) e a revisão sobre o tema feita por você. Ao apresentar o filme para os alunos, você será capaz de chamar-lhes a atenção para todos os aspectos que considerar fundamentais nos trechos visualizados.

É como dizem, no caminho que trilhamos sempre existirão pedras, elas podem nos fazer dar voltas maiores ou ainda machucar nossos pés, no entanto, elas tornam nossa chegada um momento de grande satisfação. Para que o filme seja um recurso de ótimos resultados se apresentam algumas pedras no caminho. Não tenha medo de superá-las, o sabor da conquista que o espera no final compensa qualquer bolha ou calo nos pés (ou nas mãos, já que escrever é o caminho que temos que trilhar) que você possa ter!

João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutorando em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

Como podemos selecionar um filme para utilizar em aula?

O primeiro passo, como dissemos em artigo anterior, consiste em manter-se informado acerca dos lançamentos que estão sendo disponibilizados nos cinemas e em vídeo (ou DVD); com o auxílio prestimoso dos jornais e de revistas, através de sites sobre cinema e cultura ou mesmo contando com o apoio de um dos mais eficientes modos de informar-se que existe ainda nos dias de hoje, a divulgação de um produto cultural “boca a boca”, a partir de comentários de amigos, vizinhos, parentes ou colegas de trabalho, podemos nos manter atualizados.

Mas, como posso ter certeza de que um filme pode ser útil a uma aula?

O mais importante dos pré-requisitos é que o tema da aula seja bem conhecido por você.

O professor deve ter em mente cada passo da aula, os tópicos que estarão sendo discutidos, os temas complementares que irão auxiliá-lo na explicação, quais outros recursos (além do filme ou filmes que pretenda utilizar) poderão implementar o trabalho, que estratégias devem ser usadas para dinamizar o rendimento, com que ações individuais (refiro-me a postura a ser adotada) o professor deve contar para fazer com que os alunos se interessem pelo assunto, além dos melhores textos que possam ser oferecidos para discutir o assunto da aula.

Fico imaginando o que alguns de vocês, que procuraram o Planeta Educação com o intuito de encontrar material de apoio e novas técnicas ou recursos para suas aulas, devem estar pensando nesse momento. Consigo mesmo antever observações como:

“Queria aproveitar as dicas de uso do vídeo e de filmes e o articulista fica cobrando planejamento e estudo como pré-requisitos para a montagem das aulas! Já não basta a coordenação ou a direção da escola, que fazem (ou deveriam fazer) isso todos os dias?”

Ou ainda,

“Para usar filmes eu tenho que me preocupar em fazer tudo isso antes!! Que absurdo, é muito trabalhoso, prefiro ficar com minhas ‘aulinhas’ do jeito que estão, elas funcionam relativamente bem, às vezes os alunos reclamam mas, vai se tocando do jeito que dá! No fim do mês o salário chega ao banco do mesmo jeito.”

Não esperem respostas fáceis para as dificuldades do trabalho em aula. Não deixem de pensar que os professores são profissionais, como todos os outros e que, em função disso, devem se aperfeiçoar e organizar suas atividades. Não encarem o planejamento como sendo apenas uma obrigação burocrática, o preenchimento de papéis que a escola exige para satisfazer os orgãos superiores que fiscalizam e ordenam a educação no Brasil.

Não pensem que as cobranças que existem no mercado de trabalho para diversas profissões também não chegaram as escolas, pelo contrário, modernizar-se, atualizar-se, estudar, conectar-se a internet e manter-se em dia com o que ocorre no Brasil e no mundo são também pré-requisitos para os professores (tenho a oportunidade, regularmente, de dar cursos de atualização para professores de escolas de diversas partes da cidade de São Paulo, do interior paulista e de outros estados brasileiros e, constato que, a cada novo encontro, há maior disposição e os grupos estão mais numerosos).

Não se acomodem diante da idéia de que “aulinhas” sejam capazes de agradar seus alunos, eles estão cada vez mais informados e, graças a essa peculiaridade, cobram dos professores melhores aulas (convenhamos, passar o ano todo fazendo a mesma coisa todos os dias tem um péssimo sabor para os sentidos, não apenas para o paladar; imagine-se no lugar de seu aluno, assistindo aulas que não trazem novidades, onde o professor monopoliza o saber e compreenda a motivação para muitas das dificuldades de relacionamento que incomodam uma sala de aula).

A partir do momento em que você tenha feito um bom planejamento de suas atividades e esteja totalmente “por dentro” de como sua aula se desenvolverá e dos tópicos primordiais a serem abordados ficará mais fácil encontrar filmes que possam ser utilizados como recurso complementar e enriquecedor das atividades.
Tenha sempre em mente que não é fácil encontrar um filme que fale especificamente sobre o tema que você pretende trabalhar, você terá que, literalmente, “garimpar” uma película que possa ser lhe útil (em determinadas áreas, como literatura ou história em que encontrar um título adequado é muito mais fácil; geografia e as ciências biológicas em geral tem a sua disposição um bom acervo de documentários).

Vamos explicar, a partir de um exemplo, que caminhos podem facilitar o seu “garimpo”, fica mais fácil.

Suponhamos que o tema a ser discutido e trabalhado em um projeto que reuna professores de história, literatura, geografia, filosofia e redação seja a questão dos direitos, da cidadania. Cada uma das áreas vai dar ênfase em um determinado aspecto dessa questão e a proposta da escola é a de que utilizem-se recursos variados que devem ser monitorados por todos os professores, conjuntamente.

Reportagens sobre a fome, artigos que destaquem a luta pelos direitos trabalhistas, sites onde a situação das crianças de rua ou dos idosos seja apresentada, dados e estatísticas apresentadas no site do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ou do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) são sugeridos e, entre as várias idéias, surge a de se utilizarem filmes.

Os professores podem não conhecer um título específico onde palavras ou expressões como “Cidadania” ou “Direitos Humanos” estejam evidenciados no título, porém, podem conhecer livros que falem sobre o assunto e verificar se eles, por acaso, não se tornaram filmes (um bom exemplo seria o clássico título do autor francês Emile Zolá, “Germinal”, que foi filmado pelo diretor Claude Berri e contou com Gerárd

Depardieu no elenco; o filme explora a questão da luta pelos direitos trabalhistas a partir da ação de carvoeiros franceses no século XIX), podem contextualizar os acontecimentos e verificar quando ocorreram movimentos que geraram transformações relacionadas ao tema (a Revolução Francesa é um dos grandes marcos no que se refere a implementação dos Direitos Humanos, isso poderia acarretar uma pesquisa por títulos que tenham centrado suas atenções nos acontecimentos que ocorreram na França entre 1789 e 1799; um levantamento desses poderia trazer a tona filmes como “Danton – O processo da revolução” do polonês Andrzej Wajda, ou ainda o recente “Contos proibidos do Marquês de Sade”, do canadense Philip Kaufman), temas correlatos a questão central “Cidadania” podem mobilizar a ação dos professores rumo a locadoras onde façam perguntas que os levem a títulos que trabalhem esses assuntos (vá a uma locadora e pergunte, por exemplo, se existe algum título que fale sobre pobreza, lixões e favelas e é possível que alguém lhe indique o filme “Curta com os Gaúchos”, onde você poderá encontrar o valioso e premiado curta-metragem brasileiro “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado; algumas ressalvas são importantes, por exemplo, você deve procurar locadoras que tenham um bom acervo no que se refere a quantidade de filmes e títulos disponibilizados e que tenham dado uma boa preparação para seus funcionários para que eles possam lhe indicar os filmes com conhecimento de causa).

A busca por um bom título, que tenha relação com a aula que você pretende dar tem, como dissemos, uma relação de proximidade muito grande com o planejamento justamente porque, é a partir dessa estruturação das atividades que você poderá fazer um levantamento das possibilidades que existem em relação ao tema que você vai trabalhar. Tendo visualizado os caminhos, feito os mapas que o conduzirão nessa empreitada, tudo fica muito mais fácil!


João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutorando em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

O Professor e o(s) filme(s) escolhido(s)

Você já conseguiu passar pelo primeiro passo, escolheu seu filme e, já tem uma idéia bem clara quanto aos motivos pelos quais elegeu esse material para utilizar em sua próxima aula ou seqüência de conteúdos. O processo de seleção, como dissemos, foi mais árduo do que se imaginou a princípio; há critérios que devem ser levados em conta, existe todo um planejamento ao qual você deve estar relacionando a obra em questão, as turmas as quais esse material se destina também foram avaliadas anteriormente (o que lhe permite saber se o nível do filme é adequado, se a compreensão dos elementos apresentados será possível, se o trabalho poderá ser desenvolvido dentro de uma atmosfera de normalidade e, principalmente, se nesse contexto, frutos a se colher em virtude dessa semeadura irão surgir) e, não podemos nos esquecer de nós mesmos, nossa preparação em relação ao tema (se as leituras estão em dia, se os pormenores do assunto são conhecidos, o que tem saído de novo sobre tal temática, as resenhas publicadas nos principais jornais e revistas sobre o assunto, se o filme escolhido já foi analisado por especialistas em educação e cinema – o que me lembra de convidar-lhe a nos visitar no Planeta Educação sempre que você estiver montando uma aula como essas, todas as semanas lançamos mais e mais material sobre filmes, aproveitem a oportunidade!). Você já deve estar pensando:

- Mas, e a próxima etapa, passemos a ela, estou ansioso(a) e você fica recapitulando idéias apresentadas anteriormente!

Bom, vamos a ela! Num segundo momento sua preocupação passa a ser assistir ao filme, o que, convenhamos, consiste na parte mais agradável do trabalho. Realmente, procure relaxar, coloque o filme no vídeo ou no DVD, sente-se numa posição confortável, procure desligar-se de qualquer outro compromisso ou responsabilidade que possa desviar sua atenção e, de preferência, assista ao filme acompanhado por alguém em quem confia, de bom senso, que possa trocar idéias com você após o final da “projeção”.

- João, esse filme foi escolhido para fazer parte de um projeto, de um trabalho que estou desenvolvendo na escola e você sugere que assistamos ao material de forma relaxada, acompanhados e que esqueçamos das outras responsabilidades de nossas vidas? Só falta falar para pegar uma pipoquinha e um refresco!

Realmente, havia me esquecido desse detalhe, se puder providenciar uns comes e bebes, faça isso, tudo vai ficar ainda mais interessante.
Por trabalhar com pesquisa na universidade tenho lido muitos textos que recomendam que a primeira “leitura” que fazemos de um determinado produto cultural deve ser feita com o intuito de reconhecimento, de prospecção, como se estivéssemos identificando o terreno onde iremos realizar o nosso “garimpo”. Não deve haver a preocupação de levar pás, enxadas e picaretas para essa primeira missão, para esse primeiro levantamento de dados (por isso, deixe as canetas, lápis e blocos de anotação para depois, logo “clamarei” por eles).

Assistir o filme, visualizar a história, perceber a orientação dada pelos diretores ao produto final, notar detalhes quanto ao figurino, a música, as locações, ao mobiliário, os diálogos ou os efeitos sonoros e visuais é a sua primeira grande tarefa. Nessa atividade você deve contar com o apoio de uma companhia, por isso lhe recomendei que assistisse a película bem acompanhado, ao lado de uma pessoa sensata, que possa emitir opiniões e juízos a respeito do assunto em questão, o filme.

O motivo desse acompanhamento refere-se ao fato de que “duas cabeças pensam melhor do que uma” e, consequentemente, “ quatro olhos sobre uma mesma referência visual permitem uma melhor observação desse produto”, além disso, por mais próxima que possa ser a pessoa que dividiu o tempo com você ao assistir o filme, por mais assemelhada que seja a forma com que a pessoa se relaciona com o mundo com o modo com que você encara as coisas, são pessoas diferentes (você e essa outra pessoa), provenientes de realidades e formações diferentes, que tiveram contatos e experiências de vida diversas, que se relacionaram com outras pessoas e por isso aprenderam caminhos que não são comuns a ambos, que leram livros não conhecidos por você, que escutaram músicas desconhecidas ou pouco apreciadas em sua existência, enfim, que compõe uma possibilidade de intercâmbio na análise do filme que será enriquecedora para suas conjecturas posteriores. Em suma, seu amigo verá coisas que você não percebeu ao longo da exposição do filme (assim como você terá visto detalhes que passaram longe do raio de visão e percepção do mesmo), muitas dessas idéias captadas pelas “antenas” de seu parceiro podem ser muito úteis na elaboração do projeto em relação a esse material.

- Ah, entendi! Tudo parece fazer sentido até aqui e, o melhor de tudo é que, afinal de contas, essa é uma atividade prazerosa!

Amigo professor, tenha certeza de uma coisa, se investimos em projetos que nos trazem prazer durante sua realização é certeza que teremos como resultado desse trabalho uma colheita das melhores ao final da produção, pois, mesmo que os deuses não estejam em seus melhores dias e, as chuvas não abasteçam as margens do Nilo, encontraremos fontes alternativas que permitirão que nossos campos sejam regados constantemente e floresçam para garantir nossa alimentação e a de nosso povo!

Uma outra garantia que podemos ter em relação a um projeto como esse, que envolve uma inequívoca sensação de prazer, é que o envolvimento que podemos obter por parte de nosso público-alvo, ou sejam, nossos alunos, vai ser dos melhores. Creia-me, sua própria empolgação pode estimular a participação de seus pupilos nos projetos que você estiver desenvolvendo com eles, e isso vale não apenas para trabalhos com filmes, mas também para outras práticas que você venha a realizar. Parece um pouco com o milagre da multiplicação dos pães!

Voltemos aos seus primeiros contatos com o filme, passado esse “primeiro beijo”, ou seja, tendo visto o filme inicialmente, você terá que revê-lo só que, dessa vez, munido de materiais básicos como lápis, borracha, caneta e papel (falei anteriormente que voltaria a eles, não falei!); além disso, prepare-se para parar o filme toda vez que achar conveniente, em toda cena que houver um recurso, uma idéia, um conceito que possa ser utilizado em sua aula, por isso, tenha o controle remoto ao seu lado!

Não procure apenas grandes fatos, idéias ou definições, tenha em mente que uma cena pode enriquecer seu trabalho apenas pelo fato de conter uma ambientação ou um figurino que possam servir de modelo para a compreensão de hábitos, costumes ou formas de se relacionar em um determinado período; muitas vezes a trilha sonora de um filme (e como não prestamos atenção nas músicas, desperdiçamos esse recurso valiosíssimo; nos acostumamos a entender a orientação musical de um filme como apenas um acessório de embelezamento do produto final sendo que, na realidade, trata-se de um elemento cultural precioso e fundamental para a compreensão do filme e também para a visualização e entendimento das diversidades contextuais e culturais) pode conter elementos reveladores de um assunto específico.

Nem tudo o que você estiver vendo poderá ser aproveitado, por isso, em sua garimpagem, você está nesse momento, na beira do rio, com uma bateia (ou peneira) na mão, separando o ouro da areia. Como um autêntico mineiro, você deve perceber que algumas pedras irão brilhar, e que muita areia será jogada fora. Isso significa dizer que, no processo de seleção das idéias, o professor deve ter um crivo seletivo apurado, por isso, ele deve fazer a lição de casa indicada anteriormente, deve ter necessariamente estudado o assunto, colocado em dia as informações sobre o tema e lido resenhas e artigos sobre o filme.

Como um filme longa-metragem raramente tem menos que uma hora e trinta minutos e, já que suas aulas contam com um tempo médio de 45 ou 50 minutos no máximo, deduz-se que a seleção de imagens e idéias reduza o material que vai ser apresentado aos alunos a no máximo 15, 20 ou 30 minutos. Não dá para utilizar o filme inteiro, a não ser que você o faça em horários alternativos e não durante as aulas.

Em nosso próximo encontro estarei falando sobre o que devemos fazer para organizar a atividade a ser feita com o material selecionado. Por hoje, paramos por aqui.

João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutorando em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).