O primeiro passo, como dissemos em artigo anterior, consiste em manter-se informado acerca dos lançamentos que estão sendo disponibilizados nos cinemas e em vídeo (ou DVD); com o auxílio prestimoso dos jornais e de revistas, através de sites sobre cinema e cultura ou mesmo contando com o apoio de um dos mais eficientes modos de informar-se que existe ainda nos dias de hoje, a divulgação de um produto cultural “boca a boca”, a partir de comentários de amigos, vizinhos, parentes ou colegas de trabalho, podemos nos manter atualizados.
Mas, como posso ter certeza de que um filme pode ser útil a uma aula?
O mais importante dos pré-requisitos é que o tema da aula seja bem conhecido por você.
O professor deve ter em mente cada passo da aula, os tópicos que estarão sendo discutidos, os temas complementares que irão auxiliá-lo na explicação, quais outros recursos (além do filme ou filmes que pretenda utilizar) poderão implementar o trabalho, que estratégias devem ser usadas para dinamizar o rendimento, com que ações individuais (refiro-me a postura a ser adotada) o professor deve contar para fazer com que os alunos se interessem pelo assunto, além dos melhores textos que possam ser oferecidos para discutir o assunto da aula.
Fico imaginando o que alguns de vocês, que procuraram o Planeta Educação com o intuito de encontrar material de apoio e novas técnicas ou recursos para suas aulas, devem estar pensando nesse momento. Consigo mesmo antever observações como:
“Queria aproveitar as dicas de uso do vídeo e de filmes e o articulista fica cobrando planejamento e estudo como pré-requisitos para a montagem das aulas! Já não basta a coordenação ou a direção da escola, que fazem (ou deveriam fazer) isso todos os dias?”
Ou ainda,
“Para usar filmes eu tenho que me preocupar em fazer tudo isso antes!! Que absurdo, é muito trabalhoso, prefiro ficar com minhas ‘aulinhas’ do jeito que estão, elas funcionam relativamente bem, às vezes os alunos reclamam mas, vai se tocando do jeito que dá! No fim do mês o salário chega ao banco do mesmo jeito.”
Não esperem respostas fáceis para as dificuldades do trabalho em aula. Não deixem de pensar que os professores são profissionais, como todos os outros e que, em função disso, devem se aperfeiçoar e organizar suas atividades. Não encarem o planejamento como sendo apenas uma obrigação burocrática, o preenchimento de papéis que a escola exige para satisfazer os orgãos superiores que fiscalizam e ordenam a educação no Brasil.
Não pensem que as cobranças que existem no mercado de trabalho para diversas profissões também não chegaram as escolas, pelo contrário, modernizar-se, atualizar-se, estudar, conectar-se a internet e manter-se em dia com o que ocorre no Brasil e no mundo são também pré-requisitos para os professores (tenho a oportunidade, regularmente, de dar cursos de atualização para professores de escolas de diversas partes da cidade de São Paulo, do interior paulista e de outros estados brasileiros e, constato que, a cada novo encontro, há maior disposição e os grupos estão mais numerosos).
Não se acomodem diante da idéia de que “aulinhas” sejam capazes de agradar seus alunos, eles estão cada vez mais informados e, graças a essa peculiaridade, cobram dos professores melhores aulas (convenhamos, passar o ano todo fazendo a mesma coisa todos os dias tem um péssimo sabor para os sentidos, não apenas para o paladar; imagine-se no lugar de seu aluno, assistindo aulas que não trazem novidades, onde o professor monopoliza o saber e compreenda a motivação para muitas das dificuldades de relacionamento que incomodam uma sala de aula).
A partir do momento em que você tenha feito um bom planejamento de suas atividades e esteja totalmente “por dentro” de como sua aula se desenvolverá e dos tópicos primordiais a serem abordados ficará mais fácil encontrar filmes que possam ser utilizados como recurso complementar e enriquecedor das atividades.
Tenha sempre em mente que não é fácil encontrar um filme que fale especificamente sobre o tema que você pretende trabalhar, você terá que, literalmente, “garimpar” uma película que possa ser lhe útil (em determinadas áreas, como literatura ou história em que encontrar um título adequado é muito mais fácil; geografia e as ciências biológicas em geral tem a sua disposição um bom acervo de documentários).
Vamos explicar, a partir de um exemplo, que caminhos podem facilitar o seu “garimpo”, fica mais fácil.
Suponhamos que o tema a ser discutido e trabalhado em um projeto que reuna professores de história, literatura, geografia, filosofia e redação seja a questão dos direitos, da cidadania. Cada uma das áreas vai dar ênfase em um determinado aspecto dessa questão e a proposta da escola é a de que utilizem-se recursos variados que devem ser monitorados por todos os professores, conjuntamente.
Reportagens sobre a fome, artigos que destaquem a luta pelos direitos trabalhistas, sites onde a situação das crianças de rua ou dos idosos seja apresentada, dados e estatísticas apresentadas no site do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ou do IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) são sugeridos e, entre as várias idéias, surge a de se utilizarem filmes.
Os professores podem não conhecer um título específico onde palavras ou expressões como “Cidadania” ou “Direitos Humanos” estejam evidenciados no título, porém, podem conhecer livros que falem sobre o assunto e verificar se eles, por acaso, não se tornaram filmes (um bom exemplo seria o clássico título do autor francês Emile Zolá, “Germinal”, que foi filmado pelo diretor Claude Berri e contou com Gerárd
Depardieu no elenco; o filme explora a questão da luta pelos direitos trabalhistas a partir da ação de carvoeiros franceses no século XIX), podem contextualizar os acontecimentos e verificar quando ocorreram movimentos que geraram transformações relacionadas ao tema (a Revolução Francesa é um dos grandes marcos no que se refere a implementação dos Direitos Humanos, isso poderia acarretar uma pesquisa por títulos que tenham centrado suas atenções nos acontecimentos que ocorreram na França entre 1789 e 1799; um levantamento desses poderia trazer a tona filmes como “Danton – O processo da revolução” do polonês Andrzej Wajda, ou ainda o recente “Contos proibidos do Marquês de Sade”, do canadense Philip Kaufman), temas correlatos a questão central “Cidadania” podem mobilizar a ação dos professores rumo a locadoras onde façam perguntas que os levem a títulos que trabalhem esses assuntos (vá a uma locadora e pergunte, por exemplo, se existe algum título que fale sobre pobreza, lixões e favelas e é possível que alguém lhe indique o filme “Curta com os Gaúchos”, onde você poderá encontrar o valioso e premiado curta-metragem brasileiro “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado; algumas ressalvas são importantes, por exemplo, você deve procurar locadoras que tenham um bom acervo no que se refere a quantidade de filmes e títulos disponibilizados e que tenham dado uma boa preparação para seus funcionários para que eles possam lhe indicar os filmes com conhecimento de causa).
A busca por um bom título, que tenha relação com a aula que você pretende dar tem, como dissemos, uma relação de proximidade muito grande com o planejamento justamente porque, é a partir dessa estruturação das atividades que você poderá fazer um levantamento das possibilidades que existem em relação ao tema que você vai trabalhar. Tendo visualizado os caminhos, feito os mapas que o conduzirão nessa empreitada, tudo fica muito mais fácil!
João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutorando em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).
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